domingo, 18 de março de 2007

Reportagem - Aumenta em 40% número de convocados no Serviço Militar

Quem passou em frente ao Tiro de Guerra em Campo Mourão (TG 05-019), entre os dias 26, 27 e 28, certamente notou a movimentação de jovens no local. É que nesses dias, apesar dos problemas de infra-estrutura que o TG enfrenta, foi realizada a seleção do efetivo de 2007.

Este ano, de acordo com o chefe de instrução, sargento Schimanski (que preferiu não dizer o primeiro nome), houve um aumento de 40% do número de jovens convocados para fazer a “seleção final”. Conforme o sargento, nos anos anteriores, eram escolhidos entre 190 a 200 jovens para a inspeção. Neste ano, o número de selecionados chegou a 280; destes, 100 irão prestar o serviço militar. Para facilitar a seleção dos atiradores, Schimanski dividiu o efetivo geral - 280 - em 3 turmas de cerca de 93 jovens. As entrevistas ocorreram de segunda a quarta-feira. Pelo menos 20 não compareceram.

Conforme o sargento, os faltosos deverão se apresentar novamente à Junta de Serviço Militar e terão que pagar uma multa ‘simbólica’ que varia de R$ 2 a R$ 3. “Aquele que faltou deverá refazer todo o procedimento necessário, inclusive a inspeção de saúde. É como se ele estivesse se alistando novamente. Ele pode se apresentar tanto este ano quanto no ano que vem, mas vai ter que se apresentar. O que importa é que ele está em débito com o serviço militar”, esclarece.

Os 100 atiradores aptos a cumprir o serviço militar, já começaram as instruções no início deste mês. Preocupado com o rendimento dos atiradores, o TG trouxe em 2005 uma novidade que rendeu frutos, segundo Schimanski. A instituição mudou o horário das instruções que passou de 5h30 a 7h30, para 17h00 as 18h50.

“A mudança de horário influenciou muito no rendimento do atirador. Ele vem mais disposto para as instruções. No horário antigo – das 5h30 a 7h30 - o jovem chegava aqui cansado com sono, pois, estudava até tarde e dormia pouco. Isso atrapalhava seu rendimento, tanto nas instruções quanto no seu trabalho e estudos. Já no novo horário – das 17h00 as 18h50 - ele já está acordado e atento. Sai do seu trabalho já a caminho do Tiro de Guerra e sua produção rende muito mais”, frisa. De acordo o sargento, apenas dois Tiros de Guerra adotaram este novo horário: o de Campo Mourão e de Umuarama.

No caso dos dispensados por excesso de contingente, eles irão fazer um juramento diante da Bandeira Nacional que será realizado sob responsabilidade da Junta do Serviço Militar. A solenidade acontece no dia 20 de abril, na Praça São José. “Este juramento à Bandeira Nacional, é um ato onde os dispensados se comprometem a defender a honra, a integridade e as instituições de nossa Pátria, caso necessário com o sacrifício da própria vida”, explica.

Schimanski explica que cada município da região da Comcam tem sua junta para fazer o alistamento militar. Um jovem de Mamborê, por exemplo, se alista na própria cidade. Segundo Schimanski, os que vão servir no Tiro de Guerra são apenas jovens de Campo Mourão. Aquele que mora na zona rural, mesmo sendo do município, automaticamente não vai servir. “Vai servir apenas os que moram na zona urbana, pois quem reside na área rural não recebe salário e nem vale transporte para se locomover ao Tiro de Guerra. Inclusive, já oriento os que estudam fora que se alistem na cidade onde vão estudar”, frisa.

Voluntários - Segundo o sargento Schimanski os selecionados para servir o Tiro de Guerra são na maioria voluntários. Para que o convocado selecionado possa servir, antes a equipe responsável pela seleção verifica tudo o que pode prejudicá-lo.

“O papel do Tiro de Guerra não é prejudicar ninguém, pelo contrário, ele ajuda na formação do cidadão envolvendo-o nas atividades que a comunidade realiza. Por isso digo que o Tiro de Guerra é muito importante para nós e principalmente para os que estão servindo. Para fazer parte do TG não basta apenas ser voluntário, mas também vontade de fazer o certo e de ajudar a sociedade” diz Schimanski. “Ao servir o Tiro de Guerra, o atirador além de estar cumprindo o seu dever – o de prestar o serviço Militar que é obrigatório – estará também ajudando a si próprio, pois, estará contribuindo com a sociedade onde vive. É preciso a boa vontade de todos”, reitera.

No entanto, prestar o Serviço Militar é uma tarefa que está fora de alcance para muitos, independente da vontade de servir ou não. Alguns jovens são dispensados por problemas de trabalho, residir em outra cidade da região ou até mesmo por problemas familiares.

É o caso de Fabio Dubay Cru, 21, que mora em Roncador. Dubay, que não foi voluntário, explica que para ele seria difícil servir o Tiro de Guerra, pois mora em outra cidade e é impossível conciliar o trabalho com o horário das instruções. “Não sou voluntário porque não tenho condições mesmo. Até já pensei em prestar concurso para seguir carreira no Exército, no entanto preciso ter condições”, explica.

Para Gledson Diogo, de 19 anos, a situação não é diferente. Diogo comenta que precisa trabalhar, por isso não foi voluntário. O jovem que mora em Campo Mourão admira o trabalho realizado por esses “homens da pátria”. “Não ser voluntário não quer dizer que não gosto de prestar o serviço militar. Para estar aqui preciso de condições para realizar minha função da melhor maneira possível e não tenho estas condições. Eu trabalho e por isso não fui voluntário”, comenta.

Conforme Schimanski, entre as razões que mais impedem certos jovens de servir está o emprego. “Na maioria das vezes os horários não batem e não podemos tirar o jovem do emprego para colocar aqui. Além do mais eles não têm remuneração alguma”, frisa.

Se de um lado há os não voluntários de outro há também os voluntariados que se dispõem em servir a pátria. Exemplo disso é Robson Fernando Teixeira, 18. O estudante, que reside em Campo Mourão, explica que desde criança já esperava prestar o serviço militar.

“É bom poder ajudar a pátria, pois estou cumprindo com o meu dever e papel de cidadão brasileiro. Admiro o papel do Tiro de Guerra e sua importância para a sociedade, acho que ele transforma a gente. Acredito que não sairemos do TG, do mesmo jeito que entramos. Sou voluntário e pretendo ingressar no Exército”, conclui.

Entre os dispensados sempre há aquele que comemora por ter “escapado” de servir. No entanto, para o jovem Willians Monteiro Basílio, de 19 anos, não há o que comemorar. “Infelizmente não pude ser voluntário. Tenho vontade de servir, mas não posso, preciso do meu trabalho”, comenta.

Basílio, que mora em Araruna, explica que a vontade em servir, o acompanha desde criança. Para ele, ingressar no serviço militar, independente de ganhar ou não uma remuneração. Seria um gesto de quem quer realmente colaborar com a pátria. “Vejo o Tiro de guerra como uma escola, creio que aprendemos muito por aqui. Acho bonito o serviço que o TG presta para a comunidade. Gostaria de servir para poder ajudar um pouco também. Acho que todos nós precisamos nos preocupar em colaborar uns com os outros e o Tiro de Guerra sempre está dando de si para ajudar”, finaliza Basílio. (Walter Pereira)

Box: Critérios para prestar o serviço militar

Os “servidores da pátria” deverão seguir alguns critérios para prestar ou não o serviço militar. O processo de seleção começa pela inspeção de saúde.

A inspeção é feita por um médico que avalia algum fato, acidente ou doença contagiosa que o recruta tenha adquirido à partir de uma última inspeção que é realizada no mês de outubro por um médico militar.

Caso o jovem alegue algum problema que o impeça de praticar exercícios físicos ou realizar atividades impostas a ele e isso fique comprovado pela consulta médica, ele não prestará o serviço militar. Pode acontecer também do candidato alegar algum problema e não comprovar. Neste caso o médico fará um exame parcial como braços, ombros, entre outros. Se o diagnóstico não constatar nenhum problema ele será considerado apto.

“Ainda não quer dizer que ele vai servir. A partir daí o jovem passa por uma entrevista. Nesta entrevista temos um fichário preenchido antecipadamente por ele. Na ficha o jovem cita seu convívio com a família, se estuda ou não, se trabalha, se ajuda a família com despesas da casa, se o Tiro de Guerra vai atrapalhar no seu emprego. Investigamos também o seu comportamento na sociedade, se tem conhecimentos de produtos tóxicos como drogas. Procuramos avaliar se ele consome ou se ele apenas viu ou já ouviu falar. Não quer dizer que nossa análise vai constatar se ele consome drogas, mas a nossa experiência com mais de 20 anos de quartel já dá para ter uma idéia de como é, ou seja, se vai ou não ser uma pessoa prejudicial para o TG”, explica. “Tem também caso de proprietários que demitem estes rapazes por estarem Tiro de Guerra. Alegam que isto irá atrapalhar no rendimento deles na empresa. Mas o fato do jovem estar trabalhando, não quer dizer que ele não vai servir. São apenas considerações que levamos em conta”. (WP)

Box - Como ingressar na carreira militar

De acordo com sargento Schimanski, o fato de o cidadão prestar o serviço Militar no Tiro de Guerra, ou numa organização militar da ativa onde o recruta serve 24 horas por dia - não significa que vá seguir a carreira Militar.

Segundo Schimanski, independente de estar no Tiro de Guerra, na ativa ou na vida civil, o interessado em seguir carreira no Exército, Aeronáutica ou Marinha deverá que prestar concurso. “Sempre divulgamos os concursos quando há inscrições. O que pode acontecer é que o indivíduo estando no Tiro de Guerra, terá maior acesso às informações sobre essas datas”, esclarece. “Geralmente quando há concursos procuramos incentivar o interessados em se inscrever. No entanto, é preciso estudar muito porque são muito exigentes”, aconselha.

Schimanski acredita que o Serviço Militar é um momento muito importante para que o jovem dedique um período da sua vida à pátria. “Ele vai aprender muita coisa a respeito. Saberá o que é ser um cidadão patriota e vai melhorar muito o seu condicionamento físico. Além de fazer muitas amizades, vai ter um conhecimento amplo do seu município, pois vai participar de campanhas através das festas que a cidade promove”, finaliza.(WP)

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