Foto: Walter Pereira
Joel Teixeira: "já fui discriminado por usar o albergue"
O frio dos últimos dias fez dobrar o número de pessoas que procuram um albergue para se proteger das baixas temperaturas. De acordo com José Wilson Arqueman, coordenador do Albergue Noturno José do Patrocínio, em Campo Mourão, em dias quentes cerca de 10 a 13 pessoas passam pela entidade. Com a chegada do frio, o número saltou para 25 e às vezes até 30. “É um aumento considerado alto”, explica.
Em Maringá, a situação não é diferente. De acordo com Alzira Zardo, coordenadora do Albergue Santa Luzia de Marilac, houve um aumento expressivo de pessoas que os procuram. “Nos dias quentes cerca de 54 pessoas passam por aqui. Com a chegada do frio o número foi para mais de 100”, revelou.
Em Campo Mourão, de acordo com Arqueman, pessoas em diferentes situações procuram a entidade. “Aqui aparece gente de todo jeito. Vêm idosos, jovens, homens, mulheres e até casais acompanhados com filhos”, frisa.
Segundo Arqueman, devido ao elevado número pessoas que procuram o albergue, a entidade está passando por algumas dificuldades. “Muitas vezes nos faltam produtos, principalmente materiais de limpeza. Já aconteceu de faltar outras mercadorias como toalhas e lençóis para cama. Embora a prefeitura e a população nos ajudem, sempre falta uma coisa ou outra. Pedimos a cooperação das pessoas. Elas podem nos ajudar doando alimentos, roupas, calçados, produtos de limpeza. Qualquer doação é bem vinda”, apela.
Os que pernoitam no albergue, tem direito a um jantar e café da manhã. Conforme Arqueman, durante o dia as pessoas desocupam a entidade para que seja realizada a limpeza do local. “Os únicos que podem permanecer, em alguns casos, são os idosos”, frisa. Arqueman explica que os usuários podem permanecer até três noites no albergue. “Há algumas exceções no caso de doentes. Estes ficam por aqui até serem tratados”, acrescenta.
Normas
De acordo com Arqueman, para que o usuário possa usufruir os serviços prestados pela entidade, é preciso seguir pelo menos duas regras básicas: não estar embriagado e preencher um formulário com dados pessoais e apresentação de documentos.
Arqueman lembra que o albergue recebe as pessoas de segunda a sexta-feira, das 17h às 23h. “O pessoal começa a chegar aqui por volta das 18 horas. Geralmente tem uns que chegam bem mais tarde, até de madrugada”, conclui.
“Albergados”
Roberto Carlos Miguel, 39 anos, mora em Tuiutaba (RS) e vai para Uberlândia (MG). “Vou visitar minha mãe. Soube que ela está com problemas de saúde”, justificou. “É a primeira vez que passo por Campo Mourão. Na verdade queria mesmo era ter dinheiro para poder dormir em um hotel. Porém tenho dificuldades financeiras e o que me resta é ficar aqui. Apesar de preferir um hotel, gostei da recepção. O Wilson foi muito educado comigo, estou feliz por isso”, disse sorrindo.
Desempregado, Carlos sobrevive dos chamados “bicos”. Ele disse que sua vida financeira em Tuiutuba é apertada. “Porém, isso não me atrapalha de ser feliz”. Carlos, que diz estar fazendo o 5º período do curso de direito, não sente vergonha em dizer que tem uma moradia graças à ajuda da prefeitura e que cursa a faculdade porque conseguiu acesso ao PROUNI (Programa Universidade para Todos). “Vergonha só devemos ter de roubar e matar. Não me sinto envergonhado em dizer que os outros me ajudam, pelo contrário me sinto feliz sendo assim”, comentou.
Questionado sobre sua família, Carlos disse sorrindo que se orgulha das duas filhas que tem. “Tenho duas filhas, uma de 13 anos e outra de 11. Uma mora em Uberlândia e a outra em Atibaia no interior de São Paulo”, revelou. “Atualmente estou separado”.
Com história de vida parecida a de Carlos, Joel Teixeira, 36 anos é o “homem do trecho”. “A minha vida é a estrada. Não paro muito nos lugares onde vou”, justificou. Teixeira é natural de São Carlos, interior de São Paulo. Ele está de passagem em Campo Mourão com destino à Florianópolis (SC). Teixeira explicou que sua andança não é por acaso. “Eu não paro porque preciso trabalhar”, resumiu.
Teixeira é pintor e não recomenda a vida que leva para ninguém. Segundo ele, a maneira em que vive é muito sofrida. “Como ando bastante, paro muito em albergues. Mesmo sendo bem recebido queria ter condições para não precisar vir parar aqui. Tem lugares que somos mal tratados. As pessoas não nos respeitam e tudo que quero é trabalhar”, desabafou.
Solteiro, Teixeira explica que há quatro anos ´roda o mundo´ sozinho. Há mais de 13 anos na estrada, ele comentou que já passou por muitos momentos ruins. “Um deles foi uma vez que tive que caminhar de Florianópolis a Sorocaba. Foi uma caminhada muito triste e cansativa”, lembrou.
Teixeira disse que já foi muitas vezes discriminado. “Já me chamaram de vagabundo só porque estava com uma mala nas costas e perguntei onde ficava o albergue. Isso me deixou muito chateado, pois, vagabundo sei que não sou. Eu trabalho e ganho meu dinheiro. Não preciso roubar. Deixo um recado para quem não conhece essa vida: nunca queiram conhecer. Só se for preciso. É sofrido demais”, finalizou.
Maringá
Em Maringá, a procura pelo albergue da cidade também aumentou nos últimos dias de maio. De acordo com Alzira Zardo, coordenadora da entidade, houve um aumento de aproximadamente 50% do número de pessoas. Normalmente, cerca de 54 pessoas passam pelo albergue. Porém, nos últimos dias, devido à queda na temperatura, o número saltou para 108. “É um número expressivo”, frisa.
Alzira revela que, com o aumento de pessoas, aumentam também as necessidades. “Estamos precisando de produtos de limpeza e toalhas de banho. É muita gente e o consumo aumenta”, ressalta.
Conforme Alzira, pessoas de diversas situações comparecem diariamente no albergue. “Há casos em que a polícia coíbe e encaminha algumas pessoas para cá. Há também os moradores de rua que nos procuram com freqüência”, explica. “É importante lembrar que pessoas de outras cidades e até de outros estados passam por aqui”.
De acordo com relatório repassado pela coordenadoria do albergue, no mês de maio, passaram pela entidade mais de duas mil pessoas sendo: 1460 de Maringá; 722 de outras cidades e 336 de outros estados. (Walter Pereira)
Em Campo Mourão o número de pessoas que procuram a entidade subiu de 15 para 30 por noite. Já em Maringá de 54 para 108
O frio dos últimos dias fez dobrar o número de pessoas que procuram um albergue para se proteger das baixas temperaturas. De acordo com José Wilson Arqueman, coordenador do Albergue Noturno José do Patrocínio, em Campo Mourão, em dias quentes cerca de 10 a 13 pessoas passam pela entidade. Com a chegada do frio, o número saltou para 25 e às vezes até 30. “É um aumento considerado alto”, explica.
Em Maringá, a situação não é diferente. De acordo com Alzira Zardo, coordenadora do Albergue Santa Luzia de Marilac, houve um aumento expressivo de pessoas que os procuram. “Nos dias quentes cerca de 54 pessoas passam por aqui. Com a chegada do frio o número foi para mais de 100”, revelou.
Em Campo Mourão, de acordo com Arqueman, pessoas em diferentes situações procuram a entidade. “Aqui aparece gente de todo jeito. Vêm idosos, jovens, homens, mulheres e até casais acompanhados com filhos”, frisa.
Segundo Arqueman, devido ao elevado número pessoas que procuram o albergue, a entidade está passando por algumas dificuldades. “Muitas vezes nos faltam produtos, principalmente materiais de limpeza. Já aconteceu de faltar outras mercadorias como toalhas e lençóis para cama. Embora a prefeitura e a população nos ajudem, sempre falta uma coisa ou outra. Pedimos a cooperação das pessoas. Elas podem nos ajudar doando alimentos, roupas, calçados, produtos de limpeza. Qualquer doação é bem vinda”, apela.
Os que pernoitam no albergue, tem direito a um jantar e café da manhã. Conforme Arqueman, durante o dia as pessoas desocupam a entidade para que seja realizada a limpeza do local. “Os únicos que podem permanecer, em alguns casos, são os idosos”, frisa. Arqueman explica que os usuários podem permanecer até três noites no albergue. “Há algumas exceções no caso de doentes. Estes ficam por aqui até serem tratados”, acrescenta.
Normas
De acordo com Arqueman, para que o usuário possa usufruir os serviços prestados pela entidade, é preciso seguir pelo menos duas regras básicas: não estar embriagado e preencher um formulário com dados pessoais e apresentação de documentos.
Arqueman lembra que o albergue recebe as pessoas de segunda a sexta-feira, das 17h às 23h. “O pessoal começa a chegar aqui por volta das 18 horas. Geralmente tem uns que chegam bem mais tarde, até de madrugada”, conclui.
“Albergados”
Roberto Carlos Miguel, 39 anos, mora em Tuiutaba (RS) e vai para Uberlândia (MG). “Vou visitar minha mãe. Soube que ela está com problemas de saúde”, justificou. “É a primeira vez que passo por Campo Mourão. Na verdade queria mesmo era ter dinheiro para poder dormir em um hotel. Porém tenho dificuldades financeiras e o que me resta é ficar aqui. Apesar de preferir um hotel, gostei da recepção. O Wilson foi muito educado comigo, estou feliz por isso”, disse sorrindo.
Desempregado, Carlos sobrevive dos chamados “bicos”. Ele disse que sua vida financeira em Tuiutuba é apertada. “Porém, isso não me atrapalha de ser feliz”. Carlos, que diz estar fazendo o 5º período do curso de direito, não sente vergonha em dizer que tem uma moradia graças à ajuda da prefeitura e que cursa a faculdade porque conseguiu acesso ao PROUNI (Programa Universidade para Todos). “Vergonha só devemos ter de roubar e matar. Não me sinto envergonhado em dizer que os outros me ajudam, pelo contrário me sinto feliz sendo assim”, comentou.
Questionado sobre sua família, Carlos disse sorrindo que se orgulha das duas filhas que tem. “Tenho duas filhas, uma de 13 anos e outra de 11. Uma mora em Uberlândia e a outra em Atibaia no interior de São Paulo”, revelou. “Atualmente estou separado”.
Com história de vida parecida a de Carlos, Joel Teixeira, 36 anos é o “homem do trecho”. “A minha vida é a estrada. Não paro muito nos lugares onde vou”, justificou. Teixeira é natural de São Carlos, interior de São Paulo. Ele está de passagem em Campo Mourão com destino à Florianópolis (SC). Teixeira explicou que sua andança não é por acaso. “Eu não paro porque preciso trabalhar”, resumiu.
Teixeira é pintor e não recomenda a vida que leva para ninguém. Segundo ele, a maneira em que vive é muito sofrida. “Como ando bastante, paro muito em albergues. Mesmo sendo bem recebido queria ter condições para não precisar vir parar aqui. Tem lugares que somos mal tratados. As pessoas não nos respeitam e tudo que quero é trabalhar”, desabafou.
Solteiro, Teixeira explica que há quatro anos ´roda o mundo´ sozinho. Há mais de 13 anos na estrada, ele comentou que já passou por muitos momentos ruins. “Um deles foi uma vez que tive que caminhar de Florianópolis a Sorocaba. Foi uma caminhada muito triste e cansativa”, lembrou.
Teixeira disse que já foi muitas vezes discriminado. “Já me chamaram de vagabundo só porque estava com uma mala nas costas e perguntei onde ficava o albergue. Isso me deixou muito chateado, pois, vagabundo sei que não sou. Eu trabalho e ganho meu dinheiro. Não preciso roubar. Deixo um recado para quem não conhece essa vida: nunca queiram conhecer. Só se for preciso. É sofrido demais”, finalizou.
Maringá
Em Maringá, a procura pelo albergue da cidade também aumentou nos últimos dias de maio. De acordo com Alzira Zardo, coordenadora da entidade, houve um aumento de aproximadamente 50% do número de pessoas. Normalmente, cerca de 54 pessoas passam pelo albergue. Porém, nos últimos dias, devido à queda na temperatura, o número saltou para 108. “É um número expressivo”, frisa.
Alzira revela que, com o aumento de pessoas, aumentam também as necessidades. “Estamos precisando de produtos de limpeza e toalhas de banho. É muita gente e o consumo aumenta”, ressalta.
Conforme Alzira, pessoas de diversas situações comparecem diariamente no albergue. “Há casos em que a polícia coíbe e encaminha algumas pessoas para cá. Há também os moradores de rua que nos procuram com freqüência”, explica. “É importante lembrar que pessoas de outras cidades e até de outros estados passam por aqui”.
De acordo com relatório repassado pela coordenadoria do albergue, no mês de maio, passaram pela entidade mais de duas mil pessoas sendo: 1460 de Maringá; 722 de outras cidades e 336 de outros estados. (Walter Pereira)
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