Sem nada para fazer e ninguém para conversar, “velhinhos” ficam horas sentados
Conformismo e solidão. Estas são as palavras que simplificam a descrição dos idosos do Lar dos Velhinhos de Maringá. Lá, eles são calmos e conformados, têm como distração diária a conversa e os programas televisivos. Enquanto algumas senhoras costuram, outros tentam se distrair conforme podem. No Lar, um dia da semana é estipulado para que eles saiam, sempre às quintas - feiras das 9hs às 10hs. As visitas são aos domingos e feriados das 14hs às 16hs.
Laurentina de Oliveira, 70, está no asilo há três anos. Laurentina é natural de São José dos Campos, casou-se muito jovem, teve três filhos e acabou se mudando para Jacarezinho, na casa da sogra.
Devido à falta de emprego e em busca de novas oportunidades, ela e seu esposo vieram tentar a sorte em Maringá, deixando para trás seus filhos com a sogra. Os anos se passaram e Laurentina sofria muito ao lado do marido, não devido às dificuldades financeiras, mas com o alcoolismo. “Ele judiava muito de mim, me batia sempre que lhe dava vontade. Não agüentava mais aquela vida... então larguei dele e arrumei outro homem”, disse.
Dali alguns anos, Laurentina teve notícias de seus filhos e sofreu muito ao saber que dois deles haviam falecido. “Foi um choque quando soube que meus filhos queridos tinham morrido. Só sobrou o meu Jair. Deixei ele aos sete anos na casa de minha sogra e nunca mais o vi”, lamentou.
Laurentina passou a ter uma vida nova com o seu novo companheiro. Vieram à Maringá e pagavam aluguel de uma casa próxima à Catedral. “Depois de seis anos casada, meu marido veio a falecer de câncer. Não tinha como continuar pagando o aluguel. Então um padre me ajudou me trazendo para este asilo”, argumentou. “Todos os meus familiares estão bem, com a vida ganha. O dinheiro que eles têm dá para viver bem e ainda sobra, mas eu não quero o dinheiro deles, estou bem assim, só falta me acostumar com o asilo, pois faz pouco tempo que estou aqui”.
Laurentina é uma senhora bastante disposta. Tem uma tatuagem em seu braço direito feita há 15 anos por seu primo e gravada com o nome dele. Segundo ela, há muito ainda para se aproveitar da vida. “Um padre me trouxe aqui e eu acabei gostando. Não me acostumei ainda, mas aqui é bastante animado aos domingos. Me divirto com os bailes. Eu ainda tenho força e coragem para limpar a casa, se eu achar um bom companheiro, com uma casa ‘zeladinha’ e que goste de mim, eu com certeza encaro”, disse.
Lourival Naivert, 67, está no asilo há quase quatro anos e sua única família são seus dois irmãos, mas ele não gosta da falta de liberdade que o asilo oferece. “Passei a minha vida inteira livre, e agora estou preso. A gente fica pensando como está sendo lá fora. Fechados aqui, parece até que cometemos algum crime”, disse.
Lourival sofreu de hérnia de disco e ficou com a perna direita menor. Segundo ele, sempre teve bom relacionamento com os seus irmãos. “Nunca briguei com eles. Esse é o segundo asilo que vivo e minha irmã sempre pediu para que eu fosse morar com ela. Mesmo que eu não goste de viver aqui, na idade que estou não quero incomodar ninguém”, comentou. “Os chaveirinhos de miçangas que eu faço aqui são a minha distração, meu entretenimento, senão acho que ficaria louco sem ter nada para fazer, além disso, com eles ganho até um dinheirinho extra”.
Quitéria Olímpio Maria da Conceição está no silo há mais de 10 anos, e assim como Antonieta, não recorda de sua idade. Ela é natural de Pernambuco. Todos seus parentes moram no Norte do País. “Eu vim tentar a vida aqui, acabei casando e ficando viúva. Nunca mais tive contato com meus irmãos, eles nem sabem que eu estou aqui. E como não pude ter filhos, acabei ficando sozinha no mundo”, lamentou. “Mas eu vou fazer uma novena pra algum santo, para meus irmãos virem aqui me buscar. Eu não gosto de ficar aqui, não tem nada para fazer... Mas eu prefiro morar aqui do que na rua. Eu tenho uma sobrinha em Paiçandú, mas ela é ruim e eu não quero incomodar ela”.
Diferente de Laurentina e Lourival, a mineira Maria Antonieta Alves da Silva, sempre recebe visita nos domingos. Ela não se recorda de sua idade nem desde quando vive nos asilo, mas segundo ela, faz muitos anos. O que se sabe de Antonieta é que apesar de toda a tristeza oculta em seu coração, possui um brilho radiante e contagiante no olhar. “Toda a minha família está com Deus, meus pais morreram, minhas irmãs, meus filhos gêmeos e meu marido. Todos foram adoecendo e morreram um a um”, disse.
Antonieta adora viver no Lar dos Velhinhos. Segundo ela, as irmãs são boazinhas e suas companheiras compreensivas. “Gosto muito de viver aqui, ninguém me amola. Nunca imaginei que viria parar em um asilo, mas graças a Deus não estou sozinha. Tenho muitos amigos”, argumentou.
Antonieta apesar de ter uma alimentação saudável, possui a saúde frágil. Frequentemente sente fortes dores de cabeça e na perna. “Já fui muitas vezes ao médico, mas mesmo assim não me queixo. É bom ter amigos. Parece ser besteira... mas sempre que preciso de um copo d’água alguém me socorre, no dia de visita, apesar de não ter família, meus amigos e minhas ex-vizinhas me visitam, isso me deixa muito feliz”, comentou.
Outra moradora do asilo é Maria Bárbara Maia, 84, ficou viúva duas vezes e é mãe de três filhos. “Eu tenho a memória fraca, não sei quando vim para cá. Eu sei que tinha quatro filhos, um morreu. Todos os domingos eles vêm me visitar e me leva pra ver os parentes. Eu vivo aqui porque eu não quero dar trabalho pra ninguém. Além disso, eu sou feliz assim”.
41 anos de asilo
O Lar dos Velhinhos foi fundado no dia 8 de Maio de 1966, pelo Rotary Club, que mais tarde entregou o Lar para as irmãs da Imaculada Conceição - congregação de freiras. A irmã Firmina foi quem recebeu a chave do Lar dos Velhinhos e desde então é diretora do lugar. Este ano ela completa 41 anos de administração.
Segundo Sandra Regina Gardiolo Nardo, secretária da irmã Firmina, o asilo possui capacidade para 50 idosos e no momento todas as vagas estão preenchidas. “O Lar é mantido através de doações, promoções, ajuda do governo e o benefício dos vovôs”, disse Sandra. Cada idoso disponibiliza R$380, sendo que 20% do dinheiro, os velhinhos podem dispor conforme quiserem.
A secretária disse ainda que a prefeitura ajuda com seis funcionários de serviços gerais e uma renda mensal, a qual ela não quis dizer o valor. “Não posso dizer quanto eles nos repassam, mas não é muito dinheiro não”, afirmou.
Quando algum idoso fica doente é encaminhado para o SUS. No asilo existe uma sala específica para esses doentes com uma enfermeira de plantão. São quatro enfermeiras, que trabalham 12 horas e revezam com as demais. No asilo, não há psicólogos, somente a colaboração de trabalho voluntário. (Fabiane de Souza)
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