“A televisão cria programas que possibilitam mostrar as mazelas dos outros, a dor alheia, as adversidades vividas cotidianamente e que são, muitas vezes, semelhantes às da maioria dos constituintes da audiência. Mas a televisão nunca mostra a vida ‘nua e crua’. Exibe encenações, seleciona e segmenta, mas não exibe a vida real. Esse outro lado da vida real só é conhecido pela convivência prática com os sofrimentos e as alegrias da vida cotidiana, nos seus devidos lugares”. Talvez você possa estar ainda tentando captar o subliminar do pensamento de Osvaldo Trigueiro, mas a frase citada não oculta nada, é apenas uma verdade escancarada que ainda muitos de nós hesitamos em concordar.
Quem é que nunca assistiu algum episódio do reality show Big Brother Brasil? E quem já parou para analisar as célebres frases do inteligentíssimo apresentador Pedro Bial? E agora, vai me dizer que nunca se arrepiou quando ouvia Bial conclamando a palavra “sobreviventes” quando se referia aos participantes?
O historiador inglês Stuart Walton, autor do livro ‘Uma História das Emoções’, falou sobre uma mudança no conceito de privacidade e explicou que o que move as pessoas a se interessarem por programas estilo BBB é a exposição das emoções que são oferecidas para o consumo do público. Os “sobreviventes” são forçados a viver situações extremas de estresse para o entretenimento dos telespectadores, que por sinal adora especular a vida alheia. O historiador também afirmou que cada vez mais as pessoas comuns são usadas em shows de TV, justamente porque as emoções que oferecem parecem mais verdadeiras do que as vividas pelos personagens da ficção.
Mas a questão aqui é outro. Porque Bial refere-se aos participantes como sobreviventes? Que sentido, realmente, Bial quer remeter aos participantes? Eles são sobreviventes por se submeterem a 85 dias em uma casa longe da família e amigos? Ou são sobreviventes por resistirem a manipulação global dentro do “cenário” em que o programa é veiculado 24hs por dia? (Amanda Amaral)
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