terça-feira, 10 de abril de 2007

Crítica - Porcos e Big Brother


“Animal Farm” ou “Revolução dos Bichos”, em português, é um clássico da literatura mundial. Construída a partir de metáforas, a história se passa numa fazenda onde certo dia um porco visionário tem um sonho e descobre toda a verdade a respeito de sua existência. O major, como fica conhecido o porco visionário, decide que suas idéias têm de ser espalhadas e convoca todos os outros animais para partilhar da verdade. O velho porco, no entanto, não percebe que nem todos os animais foram capazes de compreender a “verdade”. E desse modo a historia se desenrola.

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, lançou o livro em 1945 após a Segunda Guerra mundial. Socialista, o autor criticava abertamente tanto o regime comunista como o capitalista. Em sua obra, Orwell faz uma critica aos regimes totalitários demonstrando como o poder ilimitado, a manipulação, as ideologias e o fanatismo corrompem até mesmo os mais bem intencionados.

A alusão à Revolução Soviética de 1917 é clara para aqueles que têm um pouco de conhecimento histórico. No entanto, mais do que buscar analogias e personagens, o livro trata de valores humanos. Como a ignorância, a ganância e a vaidade afetam o homem ou o “bicho”. O autor, que morreu prematuramente aos 46 anos, de tuberculose e na miséria, eterniza sua obra ao contá-la metaforicamente e, ainda, tratando de valores gerais e atemporais dentro da história.

Se o livro deixasse de ser lançado após a Segunda Guerra e fosse publicado após os ataques terroristas nos Estados Unidos, talvez encontraríamos muitas analogias e personagens com a obra. Só para citar alguns exemplos: Garganta, o hábil porco em convencer o restante dos animais, poderia muito bem ser confundido com a imprensa e seu papel. Ou ainda, as velhas ovelhas, massificadas e alienadas. E é claro que não podemos nos esquecer dos cachorros, disciplinados e prontos para receber ordens. Portanto, independentemente da interpretação que se fizer, voltaremos sempre à questão fundamental: o poder.

Mas, sabendo que a obra foi publicada há mais de 50 anos, cabe a reflexão: Será mesmo que estamos tomando o rumo certo, afinal, já em 1945 um “porco” tinha a consciência de que toda a causa das desgraças do mundo não poderiam ser solucionadas com outra forma corrompida de poder? De que simplesmente fazer uma feijoada de nada mudará e que trocar o cardápio para Lula também não adiantará?

A “Revolução dos Bichos” estará se perpetuando indefinidamente enquanto não revermos nossos valores, onde mais importa preocupar-se com o vencedor do Big Brother a, pelo menos, conscientizar-se dos problemas sociais de nossa vizinhança. (Ivan Nishi)

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