domingo, 15 de abril de 2007

Editorial-Óbitos na mata

Chegou ao fim, nesta sexta-feira, mais uma minissérie transmitida pela Rede Globo de Televisão. “Amazônia: de Galvez a Chico Mendes”, escrito por Glória Perez e com direção geral de Marcos Schechtman, contou os cem primeiros anos da história do Acre, divididos em três partes. Em especial, a terceira fase da minissérie, que explorou a vida do seringueiro Chico Mendes, que chamou a atenção do Brasil e do Mundo para a preservação da floresta amazônica que vinha sendo destruída desde a década de 70 resgatou em nós -assim eu gostaria de pensar - alguma indignação, estranhamente em falta no País Tupiniquim, ainda mais diante das pesquisas sobre o desmatamento e as conseqüências desta estupidez, em inúmeros problemas que levaríamos 12 editoriais para explicar. Assassinado cruelmente em 1988 em Xapuri, uma pequena cidade de cinco mil habitantes no estado amazônico do Acre.

Chico Mendes, de forma pacífica usando apenas o diálogo como arma uniu seringueiros e índios numa grande frente conhecida pelo nome de 'Povos da Floresta' marcando, a ferro e fogo, o que está nação insiste em esquecer. A amnésia sugere uma pergunta. Será mesmo que a mobilização em defesa da floresta amazônica é um acontecimento sem a menor importância nas agendas de eventos à espera de carnavais, do Papa ou dos Logos Pan-Americanos que está preste a se realizar aqui no Brasil? Ou os 20 milhões de votos já registrados para eleger a mais nova “sete maravilha do mundo” é um evento de extraordinária organização em prol de algo significativo? Existe mesmo alguma coisa que merece a nossa atenção e que entre outras tantos problemas que este País enfrenta não pode ser escondido pra debaixo do tapete.

Talvez, a terceira fase de “Amazônia” tenha feito um bom pedaço deste Brasil, como logo observou Zuenir Ventura, perceber, cheio de culpa, de que tinha perdido o que se custa tanto a construir: um verdadeiro líder. Infelizmente o tiro que matou Chico Mendes ainda ecoa naquela região e as ameaças de morte contra bispos, padres, feiras e agentes pastorais continua uma prática freqüente.

De acordo com informações da Tribuna da Imprensa deste domingo, um levantamento feito a partir de informações da Secretaria Nacional de Direitos Humanos e de pastorais sociais, admitem existir uma lista de dez nomes - todos da região amazônica, e envolvidos com questões sociais e ambientais. Basta lembrarmos do assassinato da irmã Dorothy stang em 2005. Numa carta escrita por Chico Mendes, ele dizia o seguinte: “Quero apenas que meu assassinato sirva para acabar com a impunidade dos jagunços, sob a proteção da Polícia Federal do Acre e que, de 1975 para cá, já mataram mais de 50 pessoas”. Resta assim uma última indagação, até quando o ar que enche os nossos pulmões de vida se transformará na morte daqueles que lutam por ela? (Mateus Fiquer – Editor da 4º edição)


3 comentários:

Anônimo disse...

Estonteante

Anônimo disse...

estupendo!

Anônimo disse...

estratosféra